Sunday, November 22, 2009

Só para raros - Como conheci o Teatro Mágico


Com inúmeros elogios dos amigos mais transados, sensíveis e poeticamente corretos, senti-me curiosíssima em conhecer o Teatro Mágico.
Muitos conheciam há muito e muito tempo... e, numa dessas conversas musicais, alguém soltou um "só para raros" e eu disse:
- Só para raros?
- Sim! é uma música do Teatro, "Entrada para raros".
- Não! Não é do Teatro essa expressão! - e rapidamente antipatizei. Minto, não apenas antipatizei, mas fiquei com muita raiva, como assim alguém ousou referir-se à minha frase numa música ou num poema antes que eu o fizesse? Na verdade nunca usei essa expressão num texto meu por puro respeito a intocabilidade de tão pequenas e expressivas palavras. Explico:
Desde que li "O lobo da estepe", famosa obra de Herman Hesse, eu nunca mais deixei de pensar nas coisas só para raros. Sem ser demonstração de vaidade como "sou tão especial que sou só para raros", imagina... As coisas só para raros são muito mais espirituais e nobres, esqueçam conotações narcisistas, definitivamente.
O "meu" só para raros me remetia a coisas particulares demais para ser nome de música. Só para raros os momentos preciosos de poesias inusitadas, em lugares inusitados, no sereno com as pessoas mais raras do mundo... Só para raros as minhas loucuras, as de dentro da minha cabeça, que eu cismo que as pessoas podem ver também. Só para os raros todos os dias que vivi em Paraty, a cidade que é só para os raros. Só para os raros cada momento que assisti passar na frente dos meus olhos na Lapa e cada rua cheia de história pela qual pisei.
Imagina então, só para raros para todos?
Mas eis que os elogios continuaram e eu queria mesmo ver quem é que também se impressionou com o "só para raros" do Lobo da Estepe... no mínimo, uma alma amiga de minh'alma...
E finalmente fui, com o coração aberto, ao show no Circo Voador, com meu amigo de coração tão circense e cigano quanto o meu.
Senti-me despida. Desvendada.
Foi uma sensação um pouco ruim, como se roubassem um pouco minha individualidade. Um misto de "roubaram meus pensamentos" com "no fundo somos todos iguais", e isso me fez amarrar a cara e sorrir de canto de boca. Mas me rendi... Sim, somos todos iguais, com tantas coisas belas e tanta arte, somos peças de um harmonioso quebra-cabeça, peças harmoniosas e ricas. Em todas as partes do mundo os mesmos sentimentos pulsam, e os mesmos pensamentos voam. Toda a energia está no ar, e o pensamento que você emana qualquer um pode capturar e assim compartilhamos dos mesmos ímpetos, humanos, raros, especiais, pois uma idéia, por cada pessoa que passa, carrega com ela o que tem de único naquele ser... as idéias estão todas no ar, buscando enriquecimento. Buscando a beleza.
O Teatro Mágico é um canalizador de idéias. Existe claramente um processo que posso comparar a uma fotossíntese de idéias: de idéias carbônicas saem as mais oxigenadas, como jamais tinha provado na frente de tantos.
Os olhos bem abertos viram coisas inesquecíveis. E pude ouvir o frescor das novas árvores da música universal. Só para todos.

3 Comments:

Anonymous Luana said...

A poesia prevalece! E ela precisa chegar a todos, todos raros! Sem horas e sem dores bem-vinda ao Teatro Mágico!

4:12 PM  
Blogger Julio said...

O poeta de quinta sim, só ele acha que a poesia é para raros, mas a vida é menos divertida de quanto ele pinta, há poesia em todos e em tudo.

4:08 AM  
Blogger Unknown said...

Sintaxe à vontade!

4:55 AM  

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